27 março, 2013
13 fevereiro, 2013
dia dos namorados
Vivo há uns anos com o meu gajo.
Desde que começámos a passar tempo juntos nunca houve preocupação de nenhuma
das partes em perceber o que eramos, nunca tivemos “a” conversa sobre o rumo
das coisas ou de quais as intenções enterradas na sentimentalidade de cada um.
Houve sempre, sim, muita transparência. Eu gostava dele, ele de mim, e por isso estávamos juntos. Combinávamos jantares, cafés, cinemas, copos (sozinhos ou com
amigos), sem etiquetas de quem paga o quê ou de quem abre a porta a quem.
Fomo-nos encantando um pelo outro no tempo que passávamos e acho que percebemos
oficialmente que eramos namorados numa noite de copos em que a pergunta nos foi
dirigida, entre risota geral o nosso segredo cúmplice
tinha sido descoberto e a resposta mais que óbvia, sim. Nunca festejámos
aniversários de casal, e ainda hoje quando me perguntam há quantos anos estamos
juntos tento situar-me em acontecimentos paralelos da altura. Conversamos
muitas vezes sobre as coisas que se passaram, com um brilhozito nos olhos, a
nostalgia surge à luz dessas situações que vivemos e que deixam muitas saudades.
Os amigos deixaram de se surpreender, à força do hábito, pelo nosso
funcionamento. Mas ainda mandam uma ou outra laracha pelas noites especiais
todas as semanas (às vezes mais do que uma vez por semana), noites reservadas
apenas a nós, for no special reason, só porque sabe bem assim. Gostamos de
conviver com os amigos, é algo de que nunca vamos prescindir. Mas também gostamos
de estar sós, de viver momentos a dois, continuamos a rir que nem putos e a
apanhar pielas juntos, a acarinhar-nos e apreciar quem está ao nosso lado. E claro
que temos as nossas brigas, que não são bem brigas mas amuos, quando não cedo
eu cede ele e vice-versa. Posso dizer que o amor ainda não parou de crescer, é
uma planta. E que entre as relações que tive é a mais adulta por valorizar o
essencial e deixar de fora o supérfluo.
Por toda a blogosfera aparecem os planos cor de rosa alheios para o dia dos namorados, as prendas fabulásticas para comprar à cara metade, os ursos pirosos
nas montras, as frases foleiras escarrapachadas em cartões, os solteiros que
saiem com solteiros para celebrar a “solteirice” e eu não vou mexer nem uma
palha para alimentar esta loucura plástica de um dia instituído para ser “nosso”
que não nos diz rigorosamente nada, nem diz rigorosamente nada sobre nós. Não
preciso de um dia como o de amanhã para lhe dar coisas especiais, para lhe
dizer coisas especiais ou para fazer coisas especiais. Já o
fazemos durante os outros dias do ano. Está à vista nos gestos que
trocamos, na nossa cumplicidade, intimidade, na vida que partilhamos. Por isso passaremos o dia de amanhã a ser o que somos, todos os dias.
06 fevereiro, 2013
os meus cabelos brancos
Os meus primeiros cabelos brancos deram os seus ares de graça
aos 24 anos. Foi uma herança passada pelo meu pai, que aos 20 já contava uma
mão cheia deles na franja.
Não sei se foi minha a autoria da descoberta, mas
quando dei com eles (os brancos) adorava ficar plantada em frente do espelho.
Os poucos fios perdiam-se por completo na imensa cabeleira (sempre tive e
continuo a ter o cabelo comprido e muito denso), por isso gostava de resgatar
aqueles três ou quatro e mimá-los qual Gollum do Lord of the Rings ("my preciouuusss"). Eram toda
uma espécie diferente, um alienígena amistoso que tinha aterrado em cheio na
minha cabeça.
Recordo-me que ao relatar a novidade, a reacção devolvida por
amigas do sexo feminino alternava entre o pânico absoluto (“horror”) e a
piedade solidária (“coitadinha”). E também me recordo da S que, sem pudores, me
aconselhava a fazer como ela: arrancar com a pinça os invasores brancos mal estes
se atravessem a despontar. Tudo isto me parecia tontinho e completamente
derivado de um fanatismo pelo politicamente correcto e pela eternidade da
juventude.
A ver, é políticamente correcto e conveniente discursar sobre
os aspectos positivos do envelhecimento, que o que importa mesmo é ter saúde,
sentir-se bem na própria pele, focar nas coisas realmente importantes da vida.
Coisas que a grande maioria de nós acredita, e bem, a 100%. Pergunto no entanto,
onde está a causa de uma pessoa não se sentir bem na sua própria pele por ter
cabelo branco? O que é que se extrai em parecer mais novo? Socialmente muito,
claro. Talvez esteja aí o problema. Se existe a ideia generalizada de que ser
jovem é bom (com os seus dissabores) e de que ser velho também o pode ser (com
tantos ou ainda mais dissabores), onde começa e se prolonga a ilusão? A ilusão do querer
parecer o que não se é. Por muito que nos tentemos convencer do contrário (e
muito menos admitir), a velhice continua a ser uma assombração que (lá no
fundo) ninguém quer ter por perto.
Não sou fundamentalista do naturalismo, e muito menos sou
contra que cada um pinte a sua melena como bem lhe aprouver, desde que essa
decisão seja consciente e individual. Não por convenção, por vergonha ou por os conhecidos(as) o fazerem.
Sei que me apela esta transformação física e adoro imaginar como
será a minha farta cabeleira toda manchada de branco ou cinza. Também sei que, no momento
em que me ache feia, pinto e pronto. Hoje, com 29 anos perdi a conta aos meus
cabelos brancos e não preciso de os procurar, saltam bem à vista e competem com
os outros.
No meio de tanto pensamento e ideias por formar, tenho só uma
certeza. Não gostaria de ser, no futuro, uma mulher que, de tanto pintar,
desconhece por completo o seu próprio cabelo.
27 janeiro, 2013
desempregada
Aquilo que algumas pessoas trabalhadoras ignora, ou na melhor
das hipóteses acaba por esquecer, é que a vida de um desempregado (categoria na
qual me insiro) não tem um horário delimitado. Com muita tristeza e frustração
apercebo-me através de desabafos com amigos e conhecidos a pré-concepção de que
o meu tempo é, na sua maior parte, livre de preocupações. Uma espécie de férias
onde retiro uma hora aqui-outra hora ali para procurar ofertas. Onde me quedo
passivamente a ponderar o sentido da existência e a curtir o conforto do lar.
Aquilo que não se recordam, ou nunca sentiram, é a urgência
constante. Esta busca que começa a partir do momento que desperto e termina no
momento em que encerro o computador e me vou deitar. As visitas cíclicas ao
Iefp, aos Portais de emprego, aos Jornais, as centenas de candidaturas não respondidas,
o palmilhar qual barata tonta instituições, empresas e associações e acreditar – sempre a acreditar – que a
presença física bate aos pontos a virtual, mesmo que por isso leve com sorrisos
amarelos e desinteressados, olhares quase suplicantes para desaparecer,
porque não há vagas nem dinheiro e talvez a realidade do desemprego não seja
tão fácil de encarar ali no sítio onde tanto se trabalha. O candidatar a áreas
que nada têm a ver com a minha formação, porque é mesmo assim que tem que ser,
para sobreviver: não encalhar, não estagnar, não afundar. E ouvir comentários irreflectidos
como “recepcionista? Andas a fazer imensas candidaturas para recepcionista...
pronto é a tua cena”. E aproveito para explicar, não. Não é a minha “cena”,
está a anos luz “da minha cena”, mas é uma opção, entre várias opções para as
quais também me candidato. Ser lojista também não é. E por incrível que pareça,
nenhuma das candidaturas que fiz para esse cargo foi bem sucedida. Ou ainda as
sugestões que, apesar de bem intencionadas, são ingénuas como “andas mesmo a
procurar em todo o lado? Tens de tentar. Já foste ao iefp? Estás inscrita? Porque
não vais mesmo às empresas? Já fizeste candidaturas espontâneas? Não basta ires
à empresas, tens que falar assim, falar assado, dizer isto, já fizeste?” E sim,
já fiz, já disse, já fui. E sim, continuo a fazer, a dizer, a ir. E se não
respondo mais a estas vossas perguntas, é porque estou saturada. Porque nelas
há um implícito de não me andar a esforçar o suficiente, e para mim,
sinceramente, é um murro na cara.
23 janeiro, 2013
aprende, estúpida #1
Conter o outro não é o mesmo que seres um contentor de lixo, e se o outro não consegue ver a diferença tens uma de duas escolhas:
1. traçar o limite
2. cagar e andar
1. traçar o limite
2. cagar e andar
Os debates ideológicos na blogosfera nunca deixam de surpreender, de tão visceralmente conduzidos. Transformam-se rapidamente em lutas estoicas de honra, com muita indignação, muito insulto, muita chapada simbólica. Seja zico, pêpa, crianças hiperactivas (do cronista Henrique Raposo). E acaba tudo a atirar pedras, querendo mostrar à viva força que a razão está no seu lado.
Vamos simplificar?
1. Há crianças hiperactivas?
Sim.
2. Há erros de diagnóstico?
Sim, chama-se negligência médica.
3. Falta de educação e hiperactividade são o mesmo?
Não.
4. Há crianças mal educadas?
Sim, muitas.
5. Os pais, não podendo receitar medicação, podem influenciar médicos a diagnosticar hiperactividade só para drogar as crianças e não terem que se chatear tanto?
Até podem tentar, se o conseguirem voltamos à negligência médica.
6. Existem pais que desculpabilizam a má educação dos filhos com o rótulo de hiperactividade?
Sim, há gente para tudo.
7. Deve-se pensar que todos os pais que dizem ter filhos hiperactivos estão a encobrir falta de educação?
Não.
Não.
8. Se a hiperactividade é um diagnóstico relativamente recente (e que antes era visto como simples má educação) significa que é inválido?
Não, pergunto-me se alguém duvidaria (por exemplo) da esquizofrenia.
É mesmo preciso insistir na luta hiperactividade vs má educação?
Deixem-se de merdas.
22 janeiro, 2013
Eu não sei que vento siberiano decidiu passar por cá, mas quando chegava a casa vinha com os dedos congelados e o nariz transformado em estalactite. Não sou nem nunca serei (espero) uma fundamentalista das estações, gosto muito de cada uma delas. Claro que achar uma certa piada ao Inverno não é o mesmo que estar mortinha por ficar ensopada com a chuva, e também não é o mesmo que amar de paixão o chapéu de chuva atrelado ao corpo como um apêndice. Mas pergunto, em que estação se poderia desbundar assim o sofá, estilo urso em hibernação, a babar nos filmes, os cobertores polares em cima, o gato ronronar nos pés, torradinhas e cacau quente. Quem não gosta de ter o papo quentinho virado para cima em plena apoteose da ronha, e prefere andar a espumar raiva ou indignação com a chegada de cada Inverno que vá ginasticar a frustração para o Holmes, ou sei lá, emigre.
Ai tanto drama
Um amigo ficou profundamente chocado por não existir
cá em casa uma máquina de lavar louça. Entre várias coisas, apelou ao
indispensável dos “bens de primeira necessidade” e de não estarmos “num país de
terceiro mundo”. E eu que vivi, durante anos, com um fogão de dois bicos (de
onde saíram deliciosos jantares para grupos de 10 e 15 amigos) pensei que
estivesse na amena cavaqueira. Nop, não estava.
se ouço esta idiotice mais uma vez acredito que me vá rebentar uma veia
Já li e ouvi tanta gente de peito cheio falar dos "doutores" e de como todos querem é ser "doutores" e que o problema de hoje em dia, dos números elevados do desemprego, vão desaguar ao nem todos podermos ser "doutores". Porque ao que parece ser "doutor" é uma coisa de gente tacanha e inútil que na verdade foi estudar porque não quer trabalhar. Não meus filhos, não estudem porque não vale a pena. Até porque esses "doutores" que nos tratam quando estamos doentes, que nos investigam novos tratamentos, que nos ajudaram a ter carrinhos, microondas, telemóveis, computadores, androides, incluindo o adoradíssimo facebook (um apanhado que em nada faz jus ao "doutor"), não servem mesmo para nada.
Já se passou muito tempo desde que escrevo nos blogues, antes gostava de o fazer. Chegava a casa com um formigueiro nos dedos. Poderia dizer que não me recordo do momento em que começaram a crescer grandes intervalos entre os textos, mas sei quando, como e na verdade isso pouco interessa. A vida muda, nem sempre para melhor ou pior. Muda apenas, e foi o que aconteceu. Escrever um texto implica permitir tempo a sós, e apesar de tempo em si ser algo que me sobra não o usei para isto.
É uma tentativa, é um voltar.
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